13 de nov. de 2012

Love Hurts

Ela encontrou o homem da vida. Ficou noiva. Ia casar. Amava tanto que perdeu a noção e chegou a contratar aqueles telegramas ao vivo com bexigas em forma de coração e gente com voz de locutor de rádio AM lendo a poesia ruim que ela mesma escreveu. Tinha tanta certeza de que ele era o cara que tomou a medida extrema. Tatuou o nome dele na nuca. Diego, para ficar, under my skin.
Um ano depois eles deram um tempo. Romperam o noivado. Não era nada daquilo. Mas Diego continuava lá, atravessado no meio da nuca. Ela poderia remover a laser. Cobrir com outro desenho qualquer, colocar uma pedra em cima.
Eu sugeri que fizesse melhor.
Deixa o Diego aí. E logo abaixo você escreve Maradona. Muita gente vai achar curioso. Alguns vão fazer perguntas e dizer que nem imaginavam que você fosse tão fã de futebol. Mas você sempre vai saber que usou o nome do craque para esconder o do perna-de-pau.

A imagem deste post é a capa da HQ independente do meu amigo querido e talentoso Mu Tron.
Veja aqui ou aqui. Já comprei o meu. É genial.

23 de out. de 2012

Mil palavras

Minha assessora para absolutamente todos os assuntos do lar tem quatro celulares. Um de cada operadora. Ela chega em casa, abre a bolsa e coloca todos em cima da bancada da cozinha como se fosse um arsenal. Diz ela que é para fazer economia. Mas me explica como se a parte dela nos diálogos é sempre mais (muito mais) ou menos assim:
Oi, tudo bem? Eu já ligo para você, pode ser? É que você ligou para o da Tim e o seu número é Claro… Deixa eu ligar de volta para você pelo da Claro, que a gente não paga. Isso… De Claro para Claro é de graça. O seu é da Claro. Esse meu é Tim. Não… O outro número que você tem é da Vivo. Vivo paga também. A não ser que o seu seja Vivo mas eu tô vendo aqui pelo número que esse é Claro, né? Você tem Vivo? Tem Oi? Desde quando, criatura? Da última vez que você me ligou não tinha Oi, não. Claro que tenho certeza, seu número da Oi eu não tenho... Você não me deu. Danada! (risos) Manda um sms para o meu da Oi e eu já salvo lá mesmo. Você tem o meu Oi? Espero… Pode falar… Sete, dois, cinco, sete. Isso. O meu é esse mesmo. Você tem crédito da Oi? Nem perguntei se você tinha crédito e já fui pedindo para mandar sms. Então manda porque eu não tenho. No da Oi eu só recebo. Ah, sei lá… Eu esqueço de recarregar. Isso... Então eu ligo pra você do da Claro e você já salva aí, beleza? Ó, chegou sua mensagem aqui no meu Oi. Apitou aqui do lado. Jura que você escutou? É que eu mudei de toque e coloquei um muito alto mesmo. Senão não escuto dentro da bolsa. Mas foi bom você me avisar que assim eu já diminuo um pouco o volume, que ninguém merece gente que deixa o celular tocando muito alto. Agora deixa eu desligar que esse da Tim vai ficar sem crédito. Melhor, né? Assim a gente não paga. Desliga que já te ligo. Beijo.

Só depois de toda essa introdução e de um consenso meio que tardio sobre que celular de que operadora liga para quem é que começa a conversa propriamente dita. Em outra ligação.

21 de ago. de 2012

A velha calça desbotada ou coisa assim

Você atende o telefone e as pessoas perguntam: que vozinha é essa? Está tudo bem?
Você tira os óculos de sol e as pessoas reparam: ué, que carinha é essa?
Você vai almoçar e alguém diz: que pratinho… Você não está comendo nada.
Você anda pela rua e a amiga afirma: você emagreceu. Nossa, que fininha.
Tristeza é uma merda. Não tem como disfarçar e eu, sinceramente, nem tento.
Acontece que, se por um lado você definha, por outro encontra certas compensações. Se emagreci como estão dizendo pode ser que agora caiba naquele jeans que eu amava e não me servia desde 2009. Será?
Você vai correndo até o armário, encontra “O Jeans” lá no fundo, esquecido. Enfia a primeira perna sem ter certeza se vai rolar, a segunda, vê que ele passa facinho pelos quadris, puxa o zíper, fecha o botão e é invadida por uma sensação unicamente incrível. Um feixe de luz entra pela janela, Os Pequenos Cantores de Viena no auge dos seus agudos viram trilha sonora, uma brisa surge do nada e agita suavemente seus cabelos, borboletas amarelas voam na sua órbita, tudo em câmera lenta, lógico. Serviu.
Então você sai de casa esboçando o primeiro sorrisinho espontâneo em semanas. E o primeiro amigo com alguma intimidade que encontra, comenta com cara de demônio: o que aconteceu com você? Que bundinha é essa?
Não resolve nada. Mas ajuda pacas.

Ah, importante. A ilustração ali de cima é do Millôr :)

26 de abr. de 2012

São Paulo é como aquele namorado feio, que está totalmente fora dos seus padrões mas que você ama loucamente. Suas amigas não entendem o que você viu nele. Sua família acha que você merecia coisa melhor. Mas você gosta, oras.
Antes de apresentar para os amigos você prepara o terreno: olha, ele não é nenhum Brad Pitt, mas é muito bacana. Sou apaixonada e tenho certeza que vocês vão se dar bem. Ponto. Assim você bloqueia logo qualquer tipo de comentário infeliz ou olhar torto. Amigo que se preze não vai cometer a indelicadeza de falar uma palavra depois que você explica que gosta dele assim, do jeito que ele é.
São Paulo não é facinho. Nossa, como demorou para essa história engrenar. No começo nem você levava fé. Só pensava em balada, todos os dias da semana, tudo não passava de uma amizade superficial. Mas depois de um tempo de convivência começou a rolar um clima, vocês foram ficando mais íntimos, encontrando mais afinidades. Tantas que você não se imagina mais longe dele.
Ele te conquistou pela inteligência, pelas sacadas geniais, porque vocês se divertem muito juntos, vão jantar em restaurantes incríveis ou preparam uma comida divina em casa mesmo. Ele tem um papo ótimo e faz você rir a noite inteira até perceber que o bar já fechou e que vocês são os últimos clientes.
Claro, ele tem um monte de defeitos. Mas tem muito mais qualidades do que muito cara lindo que você conheceu antes. Quando você percebe, já relevou e aprendeu a conviver com todas as imperfeições. Elas viram paisagem e não atrapalham mais nada.
Não dá para saber se esse amor será eterno. Se vocês vão constituir família. Mas mesmo que tudo mude, que vocês estejam bem longe e nem se vejam mais, ouvir falar o nome dele sempre vai fazer você sentir um friozinho na barriga.
Parabéns e obrigada, São Paulo. Pelos nossos 12 anos juntos.

21 de abr. de 2012

And now to something completely different

As vezes eu acho que não tenho mais o que escrever aqui. Daí a demora que vem se abatendo entre um texto e outro. Já falei sobre tanta coisa e não quero ser repetitiva. Tipo o Evandro Mesquita que insiste em relançar a Blitz cantando Você não soube me amaaaaaaaaar, só que com backing vocals piores. Então comecei a reler uns textos antigos e percebi algo muito louco e interessante: como eu mudei de ideia. Dou meus dois braços a torcer em relação a muitas coisas que escrevi outro dia. E viva a complexidade feminina. A coisa mais legal de ser mulher é que absolutamente ninguém mais espera ver sentido em nada do que a gente pensa ou sente. Vamos aproveitar e nos contradizer muito nessa vida. Por exemplo: o que eu escrevi aqui (isso é um link para o outro texto, tá?) não faz mais sentido nenhum para mim. Soa como aqueles textos idiotas atribuídos à Clarice Lispector no Facebook. E, se meu raciocínio procede, vai ver que ela escreveu mesmo aquele monte de porcarias e depois mudou de ideia. Definitivamente não acho mais que a gente não deve ter expectativa sobre as coisas. Durante muito tempo achei que expectativa era um boicote. Que não ter e ser arrebatada pelas supresas da vida era muito mais legal. Por alguns anos fiquei catando todas as minhas, enfiando em grandes sacos e jogando no fundo do Rio Tietê. Olha o que aconteceu com o Tietê. Tudo culpa das minhas expectativas afogadas. Mas não foi de um dia para o outro que eu mudei de ideia. Foi acontecendo, fui achando que essa história de “o que vier é lucro” é muito pouco. Que é uma tristeza achar que qualquer coisa está bom. Eu quero muito, do bom e do melhor. Não ter expectativas é como não planejar uma viagem. Ir e decidir lá onde ficar e o que fazer. Às vezes funciona e pode ser genial, mas além de ser uma perda de tempo, planejar, fuçar, ficar curioso sobre o que a gente vai ver é quase tão bom quanto recordar e olhar as fotos depois. Por que abrir mão disso? Eu ando cheia de expectativas e elas são muito bem alimentadas todos os dias. Vivem no teto da minha casa, no sótão, em cima do telhado. De vez em quando algumas escapam e vão para as nuvens, mas eu deixo. Quando e se as coisas boas que eu espero que aconteçam se realizarem eu também estarei nas nuvens e encontro as danadinhas por lá.

10 de fev. de 2012

Wando

Sempre achei o Wando genial. Já escrevi sobre ele aqui mesmo, neste blog. Já fui ver show, fiz reverência na frente do palco e ganhei uma cafonérrima rosa colombiana. Mas em 2011 tive a oportunidade de conhecer e tietar muito o Wando por conta de um trabalho. E descobri que além de muito figura, ele é gente boa demais.
Quando chegou no estúdio para gravar, não era o Wando canastrão que eu tinha visto no show. Na verdade, tudo aquilo é um personagem que ele foi construindo com o tempo e que só aparece quando ele liga o microfone ou sobe no palco. Pode procurar uns vídeos antigos e reparar nas próprias letras das músicas. Ele começou fazendo samba e, só depois de cair no gosto da mulherada, começou a compor pérolas como “Vem minha safada, vem minha bandida, minha descarada, (…) vem matar o desejo desse teu animal”. Sinceramente, esta fase “obscena” é a que eu mais curto e conheço.
No estúdio ele chegou calmo, profissa, quase sério. Mas num dos corredores da produtora, passou por uma tiazinha da limpeza que, ao vê-lo, não conseguiu disfarçar a empolgação. Ele percebeu e, na hora, girou o botãozinho do personagem mode on. Falou, olhando nos olhos dela: “Quando eu acabar de gravar minha música a gente vai tirar umas fotos, eu e você. E a gente vai arrebentar”.
Nem preciso dizer que a tiazinha quase desmaiou de tanta alegria. Ele sabia exatamente quem precisava agradar como ídolo e como profissional. Gênio.
Depois, lógico, eu comecei a fazer perguntas. Ele me contou da coleção de 18 mil calcinhas. Perguntei onde ele guardava tudo isso e ele desconversou, dizendo que iria usar todas para fazer o cenário da próxima turnê. Isso nunca aconteceu. Mas seria genial (de novo). Perguntei da maçã, que ele sempre tem nos shows, e ele disse “que o nome dessa fruta deveria ser mulher” (uhuuu!!). E perguntei também sobre os pêssegos em calda, que ele distribui para as fãs no show. Ele respondeu: “Meus shows têm um ritual, são uma espécie de culto. E, por isso mesmo, têm que ter a hora da comunhão. Se na igreja elas ganham hóstia, no meu show elas ganham pêssego em calda. Mas eu me divirto: coloco logo o pêssego inteiro, com caroço e tudo. As mulheres fazem fila e eu coloco o pêssego na boquinha. E a boquinha é pequena demais pra tanto pêssego. É muito divertido ver a mulherada tentando acomodar aquele pêssego enorme na boca. Eu e a banda nos divertimos. Risos”.
Risos gerais.

2 de jan. de 2012

Um lugar mágico

Confesso que me dá um pouco nos nervos essa obrigatoriedade de ir para algum lugar cool e paradisíaco nas festas de final de ano. Mas hoje você vai me desculpar porque eu vim aqui para me vangloriar.
Não sei você, mas eu passei o Natal e quase toda a semana passada num lugar perfeito. Não lembro de ter sido mais bem tratada na vida. Depois da recepção calorosa, fui direto para uma suíte iluminada e cheia de mimos. E eu não estou falando de xampuzinho bom nem de chocolate belga, my dear. Para você ter uma ideia, tinha até um pijaminha lindo, de algodão, do jeito que eu gosto e do meu número (como eles descobriram o meu número?). De dia fez um calor super agradável e à noite era frio suficiente para dormir de cobertor. O lugar não tinha praia nem coqueiro, muito menos gente me abanando com plumas, mas era mágico de verdade. Coisa de cair o queixo. Bastava eu pensar: hummm, que vontade de comer tal coisa e a tal coisa se materializava na minha frente. Plim! Simples assim.
O café da manhã não tinha hora para acabar. Se eu quisesse acordar às 4 da tarde, tinha café feito na hora com pão caseiro (de novo: como eles adivinharam? Há muito tempo não comia pão caseiro). Quando eu pensava, por exemplo, que queria tomar um banho, não precisava dizer nenhuma palavra e uma toalha limpinha e felpuda, dessas que os rock stars exigem no camarim, se materializava nas minhas mãos. Coisa de louco.
E olha a coisa da mágica outra vez: em vez daquela depressão pós-férias que a gente costuma sentir quando sai de um paraíso e tem que voltar à realidade, desta vez eu voltei toda serelepe.
Até pensei em colocar o link para você tentar fazer uma reserva para o ano que vem. Mas este é o tipo de lugar que, se todo mundo descobrir e começar a frequentar, vai deixar de ser mágico.
E depois, a casa dos meus pais só tem mais um quarto disponível, além do meu. E eu e meus irmãos, que não somos bobos nem nada, já temos nossa reserva cativa.
Feliz 2012 para você que não troca estar na companhia de quem mais ama por nada deste mundo.