23 de jan. de 2007

Definitivamente não

A escova definitiva está para as mulheres assim como o Combover está para os homens.

Para quem não sabe, Combover é aquela meia dúzia de fios de cabelo que os calvos deixam crescer para pentear para o ladinho e cobrir a careca. Quer dizer, cobrir pelo menos a parte da frente, que eles enxergam no espelho (a quem o Geraldo Alckmin pensa que engana?).
Pois a escova definitiva, prima do alisamento japonês ou, olha a que ponto chegamos, alisamento com chocolate são as novas maneiras da mulherada praticar a auto-enganação.
É complicado olhar para o espelho e não gostar do que você vê do lado de lá. Mas existem profissionais para o lado de dentro da cabeça que costumam ser muito mais eficientes do que estes alisamentos-que-tá-na-cara-que-são-artificiais-e-detonaram-seu-cabelo.
Não tem nada errado em querer variar o visual, dou o maior apoio. Mas para isso existem técnicas menos radicais, menos feias e que, pelo menos, te dão o direito de pensar “não gostei, lavei e tá novo”.
Esse fim-de-semana fui à manicure e fiquei encantada com a arte de dizer nada de um cabeleireiro, tentando convencer uma garota de cabelos ondulados e lindos, a alisar de vez. Ele mesmo tinha um cabelo que mais lembrava um espanador, de tão esturricado. Ficava enrolando uma mechinha seca no dedo e falando horas sobre as cutículas, folículos, queratina e sobre “alimentar o cabelo” (deve ser aí que entra o chocolate).
Eu não sei o que acontece. As pessoas tendem a formar uma auto-imagem errada na frente do espelho. Elas acreditam por aquele princípio infantil: quando você acredita, acontece. Será que falta alguém para avisar que sim, dá para perceber que isso que você fez na cabeça é artificial e deixa seu visual pior? Que tá na cara que muito produto químico passou por aí ou que quando você respira dá para ver a sua careca? Se ninguém tem coragem de dizer que os seus cabelos parecem cabelos de boneca, eu me habilito. Desculpe, mas nada bom pode ser associado ao uso de formol.
O que? Seu cabeleireiro disse que tem uma técnica nova e que o seu ficou ótimo, perfeito e super natural? Jura que ele disse?

22 de jan. de 2007

Um de cada vez

Trinta anos é um período intermediário e delicioso da vida. Você não é mais uma garotinha mas também está longe (que foi?) de ser uma coroa. Acho que é o momento em que as mulheres se sentem mais plenas. Já têm experiência, provavelmente já são independentes e isso dá uma sensação de liberdade que chega a ser perigosa, porque vicia. A mulherada tem a sensação de que pode tudo. A vida fica decifrável e muito mais simples para quem tem trinta (e três, no meu caso). Mas claro que nem tudo é perfeito e eu tenho uma reclamação a fazer.

Por que diabos espinhas e cabelos brancos precisam existir ao mesmo tempo?

Ou eu sou pós-adolescente e ainda tenho espinhas, ou sou pré-coroa e já tenho alguns fios brancos. Dá para se decidir, pô? Acho mais do que justo que elas piquem a mula no mesmo instante que eles chegarem. Os dois, ninguém merece. O conflito de gerações fica estampado na testa da gente. Como se não bastasse, os fios brancos são muito estranhos nessa fase: duros, espetados, parecem antenas. As espinhas também vêm meio descompensadas, no meio da bochecha. Já não respeitam mais a zona T, onde passaram a adolescência inteira. Acho que são contagiados pela sensação de “posso tudo” das mulheres e chegam chegando. Firmes, fortes, seguros, contrariando regras. Regras são para adolescentes e velhinhos nos asilos, ora.

PS: Será que o Walmor Chagas tem espinhas?

19 de jan. de 2007

Laranjas, uni-vos

Queria pedir para o matemático Oswald de Souza fazer a gentileza de calcular a probabilidade real de uma pessoa encontrar a tal metade da laranja, que os românticos inveterados tanto procuram.
Imagine que o mundo é mesmo feito de bilhões de laranjas divididas ao meio e espalhadas aleatoriamente por aí.
Quando na vida você vai encontrar a sua?
Tem que ter muita ajuda divina para isso acontecer. Ok, vamos ser beeeeem otimistas, partir do pressuposto que o destino vai conspirar, as preces da sua mãe serão ouvidas e sim, você vai esbarrar na sua.
Você, como a metade 1, tem que olhar para a metade 2, aceitar aqueles furinhos na casca, achar aquela cor amarela apetitosa e se jogar. Mas a metade 2 tem os mesmos direitos, pô. Ela também tem que abstrair os seus furinhos e querer encaixar os gominhos dela nos seus. Concorda que, mesmo quando você encontra, é difícil as duas metades entrarem num consenso?
Depois, a gente anda exposto a tanta laranja nessa vida que não dá para escolher, assim de sopetão, ao lado de qual delas você vai querer virar um bagaço. A maioria é meio sem gosto, tem as que só servem para suco, aquelas pequenininhas, que só misturando na pinga para engolir. Quantas vezes você já caiu de boca numa laranja que era metade cheia de caldinho totoso e a outra metade totalmente seca? Vai que a metade que te cabe é uma dessas? Eu, hein. Sou mulher de passar o resto da vida comendo laranja como quem mastiga um plástico-bolha?
Quer saber? Melhor do que procurar a sua metade, é ir atrás da salada de frutas toda. Abrir o leque e, quem sabe, começar a achar uma metade de carambola mais interessante do que tudo o que você já viu na vida.

16 de jan. de 2007

A outra voz

Não sei se existe explicação científica, mas todo mundo tem aquela outra voz para falar com namorado(a), marido(a) ou cachorro(a). Uma voz que oscila entre o infantil e o imbecil e que não é opcional. Por mais que você tente evitar, é ela que sai da sua boca quando você fala por telefone com o bofe ou quando vai coçar a barriga do peludão. Ela aparece onde você estiver, sem distinção: na rua, na chuva, na fazenda, numa casinha de sapê, numa reunião de trabalho, numa mesa de bar com os amigos, na fila de supermercado, no cinema. Um inferno.
Tem gente que consegue deixar isso ainda mais requintado: como se não bastasse a voz, ainda cria um vocabulário próprio, com palavras, vogais e consoantes trocadas. E muito, muito diminutivo. Não é mais amorzinho, mas amojinhu. Não quero pode ter a versão não quelo ou num telo, dependendo do grau de intimidade. Não vou nem entrar no mérito dos apelidos para não me estender. Porque existe a categoria que substitui o nome do indivíduo e a outra, que vai mais longe e insiste em colocar nomes fofos nos órgãos genitais do parceiro.
O fato é que todo mundo sabe que é ridículo, que é tosco, mas também que é uma delícia ter esse ímpeto de falar axim com alguém. Essa deve ser a tal voz que vem do coração, que todo mundo vive dizendo para a gente escutar. Sei não. Se for ela, escuta mas dá um desconto. Que essa voz não é nada confiável.

(O espaço dos comentários está aberto para você contar o seu jeitinho de falar. Ou o jeito daquele primo de um amigo seu, se isso te deixa mais à vontade. Pode postar como anônimo, bobo.)